Questões Urgentes

Como não podia deixar de ser, nesta época festiva, o sangue de Cristo vem muito à baila.
Um dos meus ódios de estimação (talvez ódio seja uma palavra muito forte) é quando vamos ao médico de família ou de medicina no trabalho e somos sujeitos ao interrogatório judicial habitual.
Uma das perguntas, que me causa especial urticária é “Então e o senhor bebe?”, isto porque é sempre uma pergunta rasteira, para a qual nunca há resposta certa. É quase como quando nos perguntam: “Acreditas em Deus?”. Assim tentamos desarmadilhar da melhor forma possível e existe já uma data de fórmulas semi-aceites pela sociedade, sendo as seguintes, com o seu significado subjacente:
 - “Não Doutor, não gosto de vinho”: que traduzida é lida como, “Não gosto de vinho, mas às vezes lá vai uma cervejita, ou uma dúzia. Ou então uma bebida licorosa, que tenho vergonha de admitir porque homens não bebem coisas doces.”.
 - “Só um copito às refeições”: dito assim, com cara orgulhosa, porque todos conhecem sobejamente as qualidades anti-oxidantes do vinho. Mas, que todos sabemos, implica uma visita esporádica, ao pequeno-almoço, almoço, lanche, jantar e ceia.
 - “Bebo socialmente”: o que traduzido quer dizer que em casa bebe pouco, mas quando vai à taberna consegue beber mais que um camelo pós-travessia de 40 dias do deserto. Mas nunca em casa! Jamais em casa, porque isso só os alcoólicos.

Eu, no meu sobejo sarcasmo, arranjei a minha própria fórmula. Ao enfrentar a pergunta, “Bebe?”, respondo habitualmente “Sim” o que leva a que o médico de serviço levante a cabeça, me olhe nos olhos e diga “Não tem cara de alcoólico”, seja lá o que essa cara for. E passamos para a pergunta seguinte: “É regular”, o que me provoca o rolo automático dos olhos para trás da cabeça.
E bebam com fartura, porque é Páscoa e não podem mesmo conduzir. Feliz Páscoa!

Autoria: Quino

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